
No fluxo da prosperidade Nutrir crenças positivas sobre o dinheiro é saber administrar o aspecto material da vida tem influência direta sobre seu grau de contentamento. Consultores apontam maneiras de encontrar o equilíbrio entre ganhos e gastos e entrar em sintonia com a abundância. Aprender a se relacionar com o dinheiro é a única maneira de fazê-lo render, crescer e se multiplicar. Nem sempre é simples cultivar essa relação sob o peso de crenças arraigadas, como a de que ele “não traz a felicidade”. Saber administrar o aspecto material da vida se traduz em ações que, em um primeiro momento, parecem chatas, restritivas ou até pessimistas – como fazer um orçamento, avaliar o que é necessário ou supérfluo ou, ainda, reservar uma quantia mensal para possíveis épocas de vacas magras. Esse é também um processo de reorganização interna: a real noção do que se tem permite encarar o saldo bancário mais como uma cota de merecimento do que motivo de insatisfação. O consultor paranaense Júlio Sampaio de Andrade aprendeu essa lição depois de um fracasso financeiro. Há 20 anos, viu seu negócio falir e começou a questionar por que algumas pessoas têm facilidade para ganhar dinheiro e outras não. Suas inquietações deram origem ao livro O Espírito do Dinheiro (ed. Qualitymark), em que trata da “contabilidade espiritual” de cada um de nós. “O saldo dessa conta depende de três fatores: a forma como se obtêm os recursos, o sentimento que nutrimos pelo dinheiro e como o usamos”, afirma Júlio. Seus valores Ser feliz no ambiente de trabalho e acreditar naquilo que faz, por exemplo, conta a favor. “O dinheiro ganho de forma ilícita não gera dividendos e um dia acaba”, diz o consultor. Hoje, ele anota seus gastos na ponta do lápis, não tem dívidas, trabalha no que gosta e se considera realizado. Cultiva, além disso, a prática espiritual, que aflorou quando buscava explicações sobre a riqueza. Foi com os ensinamentos de Mokiti Okada (1882-1955) – mestre japonês fundador da Igreja Messiânica, que acreditava na correlação entre dois mundos, um material e visível e outro espiritual e invisível – que Júlio passou a estabelecer a influência direta do peso das crenças e dos valores mais sutis na contabilidade das riquezas palpáveis. A relação com o dinheiro também depende de fatores da cultura. E lidar com os cifrões definitivamente não é o ponto forte do povo brasileiro. Em seu livro A Energia do Dinheiro – Como Fazer Dinheiro e Desfrutar Dele (ed. Campus), a socióloga paulista Glória Maria Garcia Pereira mostra que existem raízes culturais por trás do saldo no vermelho. “Apenas 20% dos brasileiros sabem lidar com os recursos materiais”, afirma. Segundo ela, expressões populares como “dinheiro é sujo” ou “dinheiro não traz a felicidade” pesam no inconsciente, fazendo com que se tenha uma relação imatura com a economia doméstica. “Nem os economistas têm as contas pessoais em ordem. É comum que eles façam o orçamento da empresa e não elaborem uma planilha dos próprios gastos”, compara Glória. Fluxo energético O filósofo Joseph Campbell, autor do livro O Poder do Mito (ed. Palas Athena), disse uma vez que “dinheiro é energia congelada, e liberá-lo é liberar as possibilidades da vida”. E usar bem essa energia é fundamental. Para a consultora financeira paulista Marcia Dessen, exagerar nos gastos e ter dificuldade para poupar são problemas que todos enfrentamos, mas o ideal é conseguir nem gastar demais nem se privar dos prazeres que o dinheiro proporciona. Guardar demais também é outra forma de excesso, dessa vez pelo medo da escassez. É importante usufruir do dinheiro que se ganha. “Ao poupar, estabeleça um limite – seja 5 mil reais ou o valor equivalente à conquista de seu sonho, como a casa própria ou um carro novo”, ensina Dessen. E, quando conquistá-lo, sinta-se feliz e desfrute dele. Estabelecer metas impossíveis, incompatíveis com a renda, pode ser uma forma de escravidão. Equilíbrio de polaridades O dinheiro tanto pode representar a energia positiva, porque possibilita satisfação e segurança, como a negativa, que implica em competição e ganância. Por isso, formular a si próprio a pergunta “o quanto chega?” pode ser o primeiro incentivo para desfrutar do que se ganha. Em seu poema Desejo, o escritor francês Victor Hugo (1802-1885) traduz bem essa postura: “Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que, pelo menos uma vez por ano, coloque um pouco dele na sua frente e diga ‘isto é meu’, só para que fique bem claro quem é dono de quem”.
Organizar para multiplicar É possível colocar as dívidas em dia e ainda fazer o dinheiro se multiplicar. Na prática, isso significa pôr ordem nas contas e distinguir os pequenos prazeres dos sonhos possíveis. Siga as recomendações dos consultores Júlio Sampaio de Andrade e Marcia Dessen. • Faça o dinheiro render equilibrando o presente e o futuro. Destine, por exemplo, uma parte do salário mensal à poupança ou a um fundo de investimento. • Se tem dificuldade em poupar, imagine que o dinheiro guardado faz parte de sua “cota de merecimento”. Você merece essa provisão para pagar seus projetos de vida futuros. • Para evitar o aperto em um possível período de diminuição de renda, reserve todo mês uma pequena parcela do que recebe para o que a consultora Márcia Dessen chama de “paz de espírito”. O ideal é juntar uma quantia equivalente a algo entre três e seis meses de salário. • Quem está desempregado precisa repensar valores, desde as contas da casa até o que é supérfluo. Mas, antes de cortar despesas, toda a família precisa avaliar o que é importante para cada um. E, nesses momentos, muitos descobrem que conseguem abrir mão de várias coisas e ainda ter conforto. O exercício também vale para quem está com dívidas e quer saldá-las. • Coloque as contas da casa e as despesas pessoais no papel e contabilize o que entra e sai. • Ao fazer o orçamento, destine parte de sua renda para realizar seus sonhos: eles só se materializam quando saem da esfera do desejo e ganham forma no papel. Descubra quanto custam a casa, a viagem, o curso que deseja fazer e contabilize a economia necessária. Sem essa noção, acaba-se desperdiçando recursos em pequenas compras desnecessárias, que só contribuem para adiar ou inviabilizar a concretização das grandes metas. Invista em boas causas Ao fazer investimentos, pode-se dar preferência a fundos engajados em programas de responsabilidade social. Nos Estados Unidos, esse tipo de aplicação já é campeão de renda, mas no Brasil ainda é novidade. Alguns bancos, como Banco Santos, HSBC, Caixa Econômica Federal e Unibanco, já oferecem essa alternativa. Funciona da seguinte maneira: são fundos tradicionais, de perfil conservador (sem riscos de perda da quantia aplicada) e que usam os recursos relativos à taxa de administração para financiar projetos sociais. Cada banco dá um nome a esse produto, mas, de maneira geral, basta perguntar ao gerente sobre fundos de investimento social e, ainda, se informar qual instituição recebe o subsídio. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, reverte essa renda para o Programa Fome Zero. Para saber mais Livros • A Energia do Dinheiro – Um Guia Espiritual para a Realização Financeira e Pessoal, de Maria Nemeth (ed. Cultrix) • A Energia do Dinheiro – Estratégias para Reestruturar Sua Vida Financeira, de Glória Maria Garcia Pereira (ed. Gente) |